UM MOSTEIRO LONGÍNQUO


No norte da Mongólia, já perto da fronteira com a Rússia, há um mosteiro encantador que resistiu às purgas soviéticas da era estalinista. Sem povoações nas proximidades, ele destaca-se no fundo de um aberto e fértil vale que parece infinito quando o percorremos até chegar à sua entrada.

Era abril quando o visitei e ainda estava frio. Andava a viajar pelo norte da Mongólia havia algumas semanas e, em especial nesta altura do ano, pouca gente se desloca nesta região. Ainda havia muita neve e gelo e os nómadas aguardavam pela chegada do calor para se mudarem para os acampamentos de verão. Cheguei ao final da tarde e o mosteiro parecia encerrado. Aparentemente, os monges já se tinham recolhido. Andei ao redor a espreitar o lugar e um monge chamou-me. Pude ficar a dormir num ger nas imediações com a promessa de que no dia seguinte me iam mostrar o mosteiro. “No verão são montados aqui gers para alojar os viajantes, nesta altura ninguém cá vem” - confessou o monge. Mas pelas marcas visíveis no chão constatei que os gers que se montam no verão para os viajantes não ultrapassam a meia dúzia. Este é mesmo um lugar esquecido numa terra longínqua.

Na manhã seguinte acordaram-me cedo e fui presenteado com chá de leite, manteiga de iaque e queijos tradicionais, antes do pequeno-almoço. O pequeno-almoço ainda estava no lume e era arroz com borrego cozido, a invariável iguaria mongol. Enquanto a refeição acabava de cozer, um monge levou-me a visitar o mosteiro, abrindo cada templo apenas para a minha visita e fechando-o à chave logo de seguida. Apontava-me os seus objetos de maior adoração, fossem estátuas, tankas ou outros ornamentos sagrados. Quase no final da volta ele mostrou-se algo apressado, comportamento que me pareceu estranho, pois não percebi as razões de imediato.

Depois, comecei a ouvir o chamamento para as orações da manhã. Lá se foi o meu pequeno-almoço de arroz com borrego, perguntei ao monge se podia assistir às orações. Curioso foi que a cerimónia decorrereu num templo em forma de ger, nada mais carismático para esta minha passagem por este mosteiro. O lugar torna-se mágico com a musicalidade dos mantras num ambiente como este. Assisti a uma parte e, para não perturbar, deixei-os prosseguir as orações sem a minha intromissão e segui viagem.

O complicado nome do Mosteiro de Amarbayasgalant, significa palácio para a meditação divina e foi contruído em homenagem a Zanabazar, uma figura incontornável do budismo na Mongólia, de quem falarei noutra oortunidade. É reconhecido pela UNESCO como património cultural. 



Sem comentários:

Enviar um comentário